domingo, 20 de março de 2011

LIÇÕES DO CÍRCULO DO FOGO

"Habitantes de um arquipélago incrustado no chamado "círculo de fogo", com passado milenar de tsunamis, terremotos e tufões, os japoneses são um povo consciente de sua vulnerabilidade, garante o historiador americano Andrew Gordon. E é justamente esse profundo entendimento dos perigos de viver sobre uma terra trêmula que os reveste de constante "sentido de prontidão", completa o pesquisador do Instituto Reischauer de Estudos Japoneses, da Universidade Harvard.
Gordon não tem dúvida de que o preparo para lidar com situações tão extremas é lição tirada do passado sísmico. Em 1923, o terremoto Kanto, considerado a pior calamidade natural já enfrentada pelo país, matou 145 mil pessoas e ajudou a definir a vida no Japão moderno. Até hoje a data de aniversário desse tremor, no mês de setembro, é reservada ao treinamento de segurança em escolas e empresas. Não é à toa que, apesar da magnitude da destruição causada pelo recente terremoto, seguido de tsunami e também de ameaça nuclear, a operação de resgate dos sobreviventes e a busca dos desaparecidos tem se dado com surpreendente calma e organização. "Nem sempre foi assim", explica Gordon, também autor de A Modern History of Japan (Oxford University Press, 2003), atentando para o fato de que muitos foram os anos de desordem e caos japonês. "Essa sociedade ordenada que vemos agora é fruto do aprendizado social do pós-guerra."
Foi também da necessidade de reerguer um país dilacerado por duas bombas atômicas que a sociedade japonesa, em meio aos esforços de reconstrução daquela que já assumiu o posto de segunda maior economia global, finalmente reencontrou a unidade e construiu seu orgulho nacional. Talvez agora, calcula o professor, se o governo conseguir manejar com eficiência a crise nas plantas nucleares do complexo Fukushima-Daiichi, tenha enfim chegado a hora de reconquistar o orgulho ferido pelo mal-estar das duas longas décadas de estagnação econômica. E, de quebra, os governantes poderão finalmente recuperar o prestígio perdido. "
Domingo, 20 de Março de 2011, 02h35
Carolina Rossetti

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